Testemunho real de quem nos procura

No campo da sexualidade a ilusão permanece também, fruto da perfeição que permeia o Cinema e a Literatura. Porém, o confronto com a realidade pode ser o nosso calcanhar de Aquiles e frequentemente o que a sociedade promete abalará, mais cedo ou mais tarde, os nossos anseios caindo por terra todas as nossas idealizações. Aquela primeira noite especial transforma-se em frustração, com o decorrer do tempo em pesadelo e os primeiros meses de relação em amargura. Afinal, o nosso corpo pode trair-nos na hora H, no momento tão esperado. Afinal o sexo parece uma ciência que exige muita técnica e os órgãos sexuais nem sempre se encontram, cósmica ou milagrosamente. Afinal, mesmo sem problemas emocionais, a orgânica do corpo, os teus músculos do pavimento pélvico podem estar em tensão diária, fechando a sua entrada e impossibilitando uma relação sexual penetrativa. Foi esta a conclusão a que cheguei semanas mais tarde. Sentia a necessidade de saber se este problema teria um nome, como e onde o trataria. Acima de tudo, sentia a necessidade de me darem a conhecer o meu próprio corpo, sem receios ou tabus. Porque não aprendemos na escola, não aprendemos em casa e muitas vezes não aprendemos sozinhos. Tudo é tabu, tudo é feio, tudo é impróprio, tudo é errado e tudo é segredo. Um secretismo que impossibilita o autoconhecimento. Pesquisando por conta própria, encontrei um nome que encaixava perfeitamente no meu corpo: Vaginismo.

 

Iniciei a descoberta a solo, por vezes com o marido enquanto aguardava a consulta numa clínica fabulosa e extremamente humana de nome: "Ama-te". Um nome que nos remete para a necessidade e urgência de nos conhecermos e valorizarmos. A fisioterapeuta Carla Sofia Marques, semanal ou quinzenalmente, trabalhou e ensinou-me a trabalhar os músculos do pavimento pélvico de forma a torná-los mais flexíveis, menos tensos. Familiarizou-me com o meu corpo reduzindo o medo na introdução de objetos como o tampão e etc. Esclareceu todas as dúvidas relacionadas com o universo feminino. Acompanhou e trabalhou não só o lado emocional mas também físico durante apenas alguns meses. E de forma abrupta numa noite, recebeu uma mensagem da paciente, já tarde numa quarta feira de do mês de junho informando-a em êxtase, compulsivamente em lágrimas: "Carla??? Conseguimos. Muito muito obrigada". Naquele momento, o que parecia impossível, intransponível, tornou-se realidade. O medo, a ignorância, o tabu, a tristeza deram lugar ao conhecimento, à confiança, ao prazer. A prática será nossa amiga tornando este caminho mais prazeroso.

 

Um agradecimento especial à minha Fisioterapeuta Carla Sofia Marques.

 

Uma palavra de coragem a todas as mulheres que se possam rever nesta situação. Que os nossos amores possam ser um apoio crucial nesta caminhada. Que esta minha experiência possa servir de impulso, de trampolim para todas as mulheres que sofrem desta condição, pois vaginismo tem cura!

 

 

"Maria"